quarta-feira, 21 de abril de 2010

Abre los Ojos






Preso na escuridão

Preso na Escuridão (Abre Los Ojos, Alejandro Amenabar, 1997) - Um homem desperta de um sono profundo, se prepara para sair e se depara com sua cidade, uma grande metrópole, sem sinal qualquer de vida e começa a vivenciar uma trama em que parece haver dois níveis de realidade que se fundem e se confundem.

Esse é um pequeno resumo do que vem a ser “Preso na Escuridão”, um clássico moderno do cinema espanhol e seu remake americano Vanilla Sky, que, não obstante terem uma estrutura praticamente igual acabam em resultados díspares, visto a mão de seus diretores, a qualidade de seus elencos e principalmente o espírito que impregna suas estruturas.

“Preso na Escuridão” tem como base a angústia do seu protagonista bon vivant que tem na angústia de encontrar a sua história, seu passado e seu futuro, ingrediente mister do seu desenvolvimento na trama, o diretor/roteirista Amenabar capricha na tensão psicológica, nas perguntas vagamente respondidas e num ritmo em que os silêncios, as sombras têm função dramática conduzindo e confundindo o público.
“Vanilla Sky” acaba diluindo o lado psicológico da trama, caminha pelo lado frenético da ação, as dúvidas são entremeadas quase sempre com o ritmo de quem não tem tempo para respirar e seu diretor Crowe (do ótimo “Quase Famosos”) imprime seu trabalho de não baixar o ritmo, até salvando totalmente o bom roteiro que tinha nas mãos da diluição total, de ser mais um veículo para Tom Cruise.

Os elencos contribuem para reforçar tais referências: se em “Vanilla” existe a confirmação de Cameron Diaz como atriz talentosa, um nível acima da sua equivalente a espanhola Najwa Nimri; Penelope Cruz faz a mesma personagem em ambos os filmes, mas se demonstra segurança, comodidade e certo talento na versão espanhola, não o faz na americana, pois além de ter um domínio precário da língua, parece não conseguir em suas incursões fora da Espanha o nível de desempenho que lá consegue.

Tom Cruise, artífice desse remake, é simplesmente engolido pela densidade que o personagem David Aames tem gravado em seu DNA espanhol, decididamente parece não ter entendido o que exatamente movia e preocupava sua matriz César, brilhantemente vivido por Eduardo Noriega, que mesmo não sendo o melhor ator do mundo, esteve excepcional e dentro da faixa etária exata para o papel. Decididamente Tom Cruise envelheceu e já não lhe cabem alguns personagens em que maiores questionamentos impliquem em estar na faixa dos vinte anos e principalmente necessitem de um entendimento maior do que lhe rodeia, ficou aprisionado no bom ator para filmes bons para levar um bom público ao cinema, não lhe caindo bem a transgressão.

Um único destaque de Vanilla Sky (além de Cameron Diaz) é a excelente trilha sonora, recheado de hits e com ótimo tema original composto por Paul Mccartney.

Fonte: http://www.portalbrasil.net/cinema_critica_012002.htm

Trailer Preso na escuridão



Trailer Vanilla Sky

sábado, 10 de abril de 2010

Martin Scorsese




Trailer Taxi driver:




Taxi Driver (1976, EUA) é um barril de pólvora prestes a explodir. Uma soma de raiva, angústia e obsessões encarnadas na pele de um herói anti-convenção, torto, do avesso, mas ainda assim, herói. Fruto de mentes geniais, cujo vigor para fazer filmes – filmes de verdade, com a alma – foi literalmente transposto para a tela, representa, em toda sua grandeza, o cinema cru dos anos 70, a maestria de Martin Scorsese para dirigir e a técnica descomunal de Robert De Niro como ator.

A obra é o tratado definitivo sobre a solidão e as marcas profundas que este sentimento deixa em uma pessoa comum. Na verdade, o termo correto seria “estado de espírito”. Aqui, não temos apenas a solidão amorosa, mas sim todo e qualquer isolamento que é imposto graças a um entendimento de mundo diferente do senso comum. Acompanhamos Travis Bickle, um ex-fuzileiro naval (ao menos é o que o próprio diz, afinal, não sabemos nada de seu passado). Insone, consegue emprego em uma companhia de táxi e perambula pelas ruas barra pesada de Nova Iorque durante as madrugadas: a melhor maneira encontrada para ocupar sua mente problemática. Extremamente isolado da realidade que o cerca, Travis mantém o mínimo de contato junto às poucas pessoas com quem convive, mas não porque goste disso. Ele tenta, mas não se sociabiliza. A cada novo diálogo, ocorre mais um fracasso retumbante. Seu passatempo, se é que podemos chamar assim, são freqüentes visitas a imundos cinemas pornôs. A raiva e a desilusão crescente se misturam ao asco pelo o que encontra em seus passeios noturnos e pelos passageiros que conduz. Prostitutas, cafetões, bêbados, traficantes, homicidas: a curiosa fauna que o motorista vê todos os dias já o fez perder a fé na sociedade. Ele sonha com o momento em que as ruas serão limpas desta escória.

Bickle representa um tipo de personagem que raramente se encontra hoje em dia. Sem dúvida, é um dos mais importantes e complexos da história do cinema, posto que pode dividir com outros marcos da Sétima Arte, como Michael Corleone (O Poderoso Chefão I e II), Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes) e Alexander De Large (Laranja Mecânica). Travis representa um mergulho na mente machucada e obsessiva de uma pessoa normal, daquelas que esbarramos todos os dias no metrô. O mérito para a grandiosidade do protagonista vem do argumento de Paul Schrader e da performance de Robert De Niro. Schrader escreveu o roteiro com base em acontecimentos e sentimentos reais de sua vida (como quando se mudou para Los Angeles tentar a sorte em Hollywood, no começo dos anos 70, e não conhecia ninguém, dormia dentro do próprio carro e falava sozinho).

De Niro, que vinha de um Oscar de melhor ator coadjuvante por O Poderoso Chefão II, entrega uma de suas atuações mais viscerais, e isso representa algo nada menos do que antológico. A partir deste filme, ele se firmou como ator respeitado e cultuado, fato que ostenta até hoje. Perfeccionista, chegou a guiar táxis reais pelas noites e estudar o comportamento de pessoas com problemas mentais. A forma intensa com que encarna o personagem faz todos os espectadores acreditarem na dor de Travis. Os monólogos proferidos pelo taxista são brilhantes (vide que o longa é narrado a partir das anotações de Travis em seu diário, clara influência do clássico do cineasta francês Robert Bresson, Pickpocket, de 1959, um dos filmes favoritos do roteirista Schrader); em cada frase, é possível enxergar um homem ferido, amargurado, que não tem ninguém para pedir ajuda, necessita desesperadamente agradar aos outros e sonha em ser alguém como todas as pessoas.

Durante a projeção de boa parte dos seus 113 minutos, Bickle encontra deliciosos coadjuvantes. Os amigos da companhia de táxi – figuras preconceituosas, mas engraçadas com suas crenças peculiares –, músicos de rua, cafetões – como Sport, personagem de Harvey Keitel – e o contrabandista de armas, conhecido como Easy Andy, são alguns ótimos exemplos. Mas, com tantas pessoas ao redor, são três encontros que mudam seu caminho. Primeiro, Betsy (a bela Cybill Shepherd), a partidária de um candidato à presidência que o rejeita. Segundo, o passageiro homicida (vivido pelo próprio Martin Scorsese) que pretende matar a mulher adúltera e não sente nenhum remorso pelo fato. E, por fim, Iris (Jodie Foster, então com 12 anos de idade, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), uma jovem prostituta. Esta possui importância fundamental na história, pois sua vida é tudo o que o taxista mais abomina, fazendo o próprio começar uma jornada para salvar a garota.

Jornada esta fotografada de forma belíssima por Michael Chapman. A Nova Iorque do filme parece mergulhada em uma constante atmosfera densa, iluminada com néons de prostíbulos, botecos e cinemas pornôs; um olhar decadente da Big Apple a partir da visão de Bickle – repare na fumaça que sai dos respiradouros de esgoto e nas sombras opressoras que encharcam as calçadas. Seu táxi amarelo é a embarcação que o faz navegar por este inferno.

A trilha sonora composta por Bernard Herrmann, parceiro de Hitchcock em edição musical por longa data, também possui extrema importância no clima do longa. Ao combinar momentos suaves de cool jazz com seqüências tensas e nervosas de saxofone, fez a música se tornar um personagem vivo dentro do filme, imprevisível como o taxista. O trabalho do compositor ganha importância, vide que este foi o último de sua prolífica carreira (Herrmann faleceu horas após concluir as gravações), que inclui, entre outros, Cidadão Kane (1941), Um Corpo que Cai (1958) e Psicose (1960).

Cercado por profissionais de primeira linha, Martin Scorsese conseguiu, em seu segundo longa de sucesso (o primeiro foi Caminhos Perigosos, de 1973), mostrar o porquê de ser reconhecido como um dos maiores diretores da história do cinema. Ele é daqueles realizadores geniais que sabem onde encaixar todas as intrincadas peças que fazem um filme funcionar. A força do argumento de Taxi Driver se alia ao vigor de Martin para filmar histórias urbanas, violentas, que possuem uma grande cidade como pano de fundo e um anti-herói em busca de redenção pessoal. Este, aliás, é o tema que guia toda a obra do cineasta.

Genialidade que é provada em cada tomada inesquecível desta obra. O uso da câmera lenta para representar o ponto de vista de um personagem; as narrações em off do próprio protagonista comentando seu estado de espírito; e a sutileza para mostrar sentimentos através de ações ou objetos que estão fora do personagem se tornaram marca registrada da carreira de Scorsese. Aqui, todos estes elementos se unem para penetrar na personalidade de Travis. Um grande exemplo é a lendária sequência em que Bickle fala com o espelho e treina o manuseio de armas; ou ainda quando o motorista é rejeitado por Betsy pelo telefone: a câmera percebe o momento de dor (quem nunca sofreu uma desilusão amorosa?) e se afasta, recusando-se a mostrá-lo. Bom gosto ao extremo.

Martin constrói seu filme desta forma. Por trás de uma falsa lentidão, as situações mostradas se somam de modo a ficar claro que tudo tem importância para a narrativa. Essa máxima scorsesiana é sintetizada na explosão de violência do terceiro ato, que de modo algum é gratuita. Bickle entende que precisa passar pelo purgatório para expurgar seus pecados e assume o papel de mártir social, em uma sequência graficamente perturbadora. E ainda sobre tempo para, no final do filme, mostrar o quão hipócrita pode ser o sistema em que vivemos: a mesma sociedade que oprime e marginaliza alguém, mais tarde o eleva como exemplo a ser seguido. Maior contradição não existe.

Taxi Driver é um clássico vigoroso e honesto, com qualidade e importância suficiente para ser reconhecido como um dos divisores de água do cinema nos anos 70. O que consola no final de sua exibição, após um tour dramático carregado de tensão, é ter a certeza de que Travis experimenta um pouco de paz.

Fonte: http://cinefilia.net/index.php?option=com_content&view=article&id=421:taxidriver&catid=18:mlb&Itemid=27


Trailer de Touro Indomável:





Se existem atores que dão certo com determinados diretores, então esse é o caso de Robert DeNiro. Parceiro de Martin Scorsese em diversas outras produções, em “Touro Indomável” o ator americano mais uma vez consegue criar um personagem intenso e único, ao mesmo tempo em que emprega um tom dramático impressionante, numa história de ascensão e queda de um ídolo americano do boxe. “Touro Indomável” é a história do lendário lutador de boxe Jake LaMotta (DeNiro), que começa como um mero lutador do bairro do Bronx em NY e passa a ser um dos maiores esportistas do país na sua modalidade, embora em vários momentos Jake enfrente problemas com mulheres e jogo, tudo ao lado do seu irmão Joey (Joe Pesci).

Scorsese adota uma narrativa simples e usual, somente escolhendo o preto e branco na fotografia para dar uma tom mais clássico e documental ao longa. É uma ótima estratégia, já que é interessante ver o cotidiano do tradicional bairro novaiorquino dessa ótica – cidade, aliás, fetiche para o diretor, que já rodou por lá diversos outros filmes. Na condução da história, vemos um Jake partindo de baixo, enfrentando adversários fracos e sem importância, porém mesmo nessa época, já se constatava a genialidade do lutador e a capacidade incrível dele aniquilar seus adversários. Em um tempo em que o boxe não era tão institucionalizado nem tão profissional, o amadorismo do esporte dá uma crueza mais intensa ao filme, uma vez que em diversas lutas é possível sentir realmente o combate mais com uma briga de rua ou um acerto de contas entre dois adversários.

A trajetória de LaMotta é mais uma história entre tantas parecidas na América. Infância razoavelmente pobre, num bairro sem lei e educado nas ruas, inúmeros lutadores americanos surgiram nesse contexto. É com essa bagagem, então, que acompanhamos LaMotta já com cerca de 20 anos, tão voraz na hora de comer quanto na hora de tratar as mulheres. O astro não aceita resposta das mulheres, não aceita ser contrariado, não cogita em nenhum momento ser encarado por uma mulher; as trata como animais, o que é contraditório em sua personalidade também animalesca. Em vários momentos o touro do Bronx perde a cabeça, mesmo nas situações mais banais do dia a dia. DeNiro, nesse ponto, é genial ao conseguir impor em seu personagem uma veia extremamente violenta, mesmo fora dos ringues. É o tipo de personagem que não leva desaforo para casa e que não dá nada para fugir de uma briga.

Sua reputação cresce com o tempo e também suas inúmeras lutas pelo país, num tempo em que o boxe era tratado com mais amor – e muito jogo, intrigas e confrontos nos bastidores. O roteiro, no entanto, não foca sua atenção nessas questões extra-ringue, e sim joga luz sobre LaMotta, um ser que, em contraposição a tudo que já foi dito sobre ele, é um homem extremamente solitário e infantil. Esse traço de sua personalidade é evidenciado com a relação dele com o irmão, Joey, numa interpretação mais uma vez magistral de Joe Pesci. Ele influencia de todas as maneiras LaMotta, muito embora seja o irmão mais novo. Mesmo assim, é ele quem gerencia a carreira do irmão, quem arruma as lutas e, principalmente, o único laço familiar do campeão de boxe. Esse ponto, aliás, é especialmente importante para entender o drama e as razões pelas quais LaMotta age de forma violenta e desprezível em relação a todos. O irmão é seu maior exemplo de vida, é a quem segue, é a quem confia as decisões da carreira, mesmo que em diversos momentos não ache que é a correta. A ausência do pai, evidenciada numa cena magnífica e simples de Scorsese, é (talvez) a chave para a compreensão da figura de Jake LaMotta.

O filme segue a carreira de LaMotta do início ao fim, com todo esse panorama como enquadramento principal da narrativa. As lutas são, na verdade, um pano de fundo – muito bem filmado e executado por Scorsese, com cenas de luta bastante convincentes – para que o roteiro trate um drama tão comum aos americanos daquele bairro e talvez tão usual também em qualquer parte do mundo.

Fonte: http://www.cafecompop.com/2009/08/critica-de-filme-touro-indomavel-1980/


Mais informações: http://travessaliteraria.blogspot.com/

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Bob Dylan




Scorsese filma biografia definitiva de Bob Dylan em "No Direction Home", que sai em DVD

por MARCELO NEGROMONTE
Editor de UOL Cinema

"No Direction Home - Bob Dylan" capta a alma de um dos mais pungentes compositores norte-americanos e ilumina com grande nitidez o período de 1961 a 1966, quando Bob Dylan forjou Bob Dylan pela primeira vez _e ele se reinventaria algumas vezes até hoje. O filme de 208 minutos dirigido por Martin Scorsese acaba de sair em DVD no Brasil. Na Inglaterra e nos EUA, ele também foi exibido na BBC e na PBS, respectivamente. Scorsese havia dirigido "Feel Like Going Home", sobre a ligação do blues com a África, um dos episódios da série "The Blues" (2003), igualmente exibida pela PBS.

O documentário exibe com riqueza de detalhes o período em que Dylan chega a NY até pouco antes do acidente de moto que sofreu em 1966, sem apelar para fofocas da vida pessoal dele nem para nostalgia barata. O cerne do coração de Dylan e o zeitgeist daqueles 60 são exibidos com elegância.

Country, folk music (tradicional e rural música norte-americana) e blues
formam o tripé fundamental da música de Dylan, com o soul a compor o quarto elemento. "Era a sonoridade que importava [no começo]", diz Dylan no documentário.

E o rock? Bem, o rock ganha de Robert Allen Zimmerman (seu nome de nascimento) um pilar estrutural, não o contrário. Um trovador folk que ousou eletrificá-lo e pagou caro por isso em muitos sentidos. Mas apenas alguns demiurgos são capazes de ousar, não pelo experimentalismo em si, mas porque possuem uma voz genuinamente criativa pela qual acredita que é o melhor meio de se expressar _e ele "tinha" de fazê-lo, mesmo com as vaias cujos motivos desconhecia.

O cenário era de Guerra Fria (comunistas, direitos humanos e o assassinato de JFK em pauta) e da quentíssima Guerra do Vietnã. Assuntos "banais" como esses não interessavam a Dylan. Ele rejeitava o status de "porta-voz de uma geração", de "mito", de "rebelde", de "a consciência de..." e, principalmente, não se considerava engajado politicamente.

A frustração e o desconforto em não conseguir se desvincular de uma imagem criada à sua revelia são captados no final da segunda parte (o DVD é duplo), quando Dylan diz que estava cheio daquela cena, de se sentir "pressionado e martelado" a responder perguntas.

E perguntas como as que ele estava "sick" de responder aparecem aqui e ali em cenas de entrevistas coletivas da época (de resto, cretinas em qualquer tempo e lugar). Como "Por que você não faz mais canções de protesto?" A resposta, irônica: "Quem disse isso? Todas as minhas músicas são de protesto. Tudo o que faço é protestar". "Em certo momento, as pessoas começaram a ter uma imagem distorcida de mim por algum motivo", diz Dylan.

Seguem imagens da apresentação de Dylan e Joan Baez em Washington, na Marcha do Milhão, em 1963, quando Martin Luther King fez o discurso que se tornaria célebre, "I had a dream...".

A relação de Dylan com seus fãs é mais explícita em "Crônicas", autobiografia publicada este ano no Brasil (ed. Planeta). No documentário, há indícios desse desconforto que possui as mesmas raízes das de rejeitar rótulos. Dylan é abordado numa praça por um fã que pede para tocar nos dedos esquerdos do músico. "Por Deus, cara. Eu não deixaria você ver a minha mão direita." "Mas você não toca com a mão esquerda", replicou o fã, agora sem resposta. Ou quando um casal o aborda no carro e pede um autógrafo: "Você não precisa do meu autógrafo. Se você precisasse, eu daria a você".

Curioso observar hoje as reações do público da época, na saída dos shows em que Dylan tocava metade acústico, metade plugado, com "aquela banda comercial", diziam uns _The Band; nome apropriadíssimo. "Irreconhecível", "vendido", "traidor", o clássico "Judas!", que teve uma resposta à altura no palco, e até mesmo "acho que ele está se prostituindo [ao se apresentar com guitarra]" são alguns dos comentários dos fãs. Não sem razão, fã, etimologicamente, vem de fanático, intolerante. Nesse caso, é aquele que considerava que a "pura folk music" fora vilipendiada.

Entrevistas com personalidades como Joan Baez, Allen Ginsberg, Dave von Ronk, Suze Rotolo, Pete Seeger etc., além de uma extensa com o prório Dylan, e imagens de apresentações de artistas, como Odetta, Johnny Cash, Woody Guthrie (uma das maiores influências do compositor) e vários outros que influenciaram ou marcaram Bob Dylan, fazem desse filme de Scorsese a biografia definitiva do cantor, compositor e escritor. E ainda há oito apresentações de Dylan nos extras, algumas raras e uma inédita. E ainda há muito, muito mais.

Veja o filme e perceba que a resposta, meu amigo, "is blowin' in the wind".