sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Palestra: Copa do Mundo e Movimentos Sociais



Palestra: A Copa do Mundo de Futebol e a 
Luta Popular dos Movimentos Sociais

Quando o governo sul africano vendeu a idéia de sediar a Copa do Mundo de 2010 para a população (na sociedade mais desigual do mundo onde 40% da população está desempregada), eles a fizeram vendendo a retórica neoliberal de “desenvolvimento”, “atração de investimento estrangeiro”, “alívio da pobreza” e “edificação da nação”. O dinheiro que submergiria no país, nos disseram, poderia ser usado para preencher as solicitações de moradia e providenciar os serviços básicos mais necessários, tais como eletricidade e água, às comunidades pobres.

No entanto, logo após a oferta ter sido aprovada, o governo – com a ajuda do setor privado – empreendeu um projeto massivo de gentrificação e remoções forçadas que lembrou a era do Apartheid. Os tão chamados indesejáveis foram forçados a sair das cidades sedes (longe das vistas da tropa de turistas que estava sendo aguardada) para morar em assentamentos informais e supostamente temporários. Anos depois, milhares de pessoas continuam vivendo nestes campos “temporários”, sem sinal de realocação ou desenvolvimento de acomodações adequadas para que seres humanos possam viver.   

Ao mesmo tempo, uma massiva renovação urbana e projetos de desenvolvimento infra-estrutural foram encaminhados...dentro e ao redor dos bairros ricos e distritos financeiros, onde turistas iriam se fartar em hotéis luxuosos. Além do mais, o labirinto de regras, restrições e exigências do governo sul africano estabelecido pela FIFA tornou ilegal a possibilidade de qualquer pessoa fora de seu controle poder se beneficiar da Copa. Comerciantes informais foram expulsos dos estádios onde, por muitos anos, com muita dificuldade, ganhavam a vida vendendo comidas e parafernálias futebolísticas; o caminho foi aberto aos comerciantes oficiais da FIFA.    

Naturalmente, esta evidente caricatura de justiça levou ao ressentimento e às erupções de luta e resistência popular. Com medo de ter sua reputação prejudicada aos olhos dos espectadores internacionais, o Estado respondeu – às vezes até mesmo antecipadamente - da única maneira que sabe: desencadeando uma onde de repressão.  

Esta palestra irá enfocar sobre a economia política ao redor de mega espetáculos esportivos tal como a Copa do Mundo, os efeitos de sediar tais eventos nos tão chamados países em desenvolvimento, e o panorama que tais eventos oferecem para construir a resistência popular através da luta. 

Jonathan é membro fundador da Frente Anarquista Comunista Zabalaza (ZACF) na África do Sul, e tem estado ativo dentro do emergente movimento libertário sul africano há uma década.

A 4a Guerra Mundial 

Este filme documentário faz um inventário das milhares de pessoas e movimentos sociais que se manifestam em toda parte do planeta, mostrando uma nova página da história composta pelos atos da resistência ao neoliberalismo. Das linhas de frente nos conflitos sociais no México, Argentina, África do Sul, Palestina e Coréia; “no norte” de Seattle a Gênova; na “guerra ao Terror” em Nova Iorque, no Afeganistão e no Iraque, o filme traz as imagens e as vozes de uma guerra não noticiada: a resistência radical ao capitalismo global, com cenas de manifestações populares inéditas na grande mídia. Com trilha sonora de Manu Chao, Asian Dub Foundation, Múm, Moosaka, Cypher AD e DJ C.

Trailer:

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Palestra: Copa do Mundo e Movimentos Sociais

Clube da Luta

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Clube da Luta

Clube da Luta é sim um filme perigoso. Mas somente para pessoas que não estão dispostas a pensar, a sair da superficialidade e explorar a avalanche de idéias que o filme proprociona.

Se analisarmos este filme de maneira superficial, veremos que violência e terrorismo são maneiras corretas de se mudar algo, como a sociedade atual. Mas, se formos mais a fundo (e é isso que o filme propõe) veremos que toda a violência mostrada em Clube da Luta é resultado da demência de um único homem (assistam que vocês vão entender o que eu acabei de escrever) e que é perfeitamente justificável.

Jack (Edward Norton - brilhante !) não agüenta mais sua vidinha fútil, sem significado ou grandes emoções. Tyler (Bradd Pitt, insano), um maluco anti-capitalista que gosta de resolver tudo na base da porrada, fica amigo dele. Juntos, fundam o tal Clube da Luta, um local onde homens brigam entre si para extravasar toda a fúria que suas vidas rotineiras lhes causam. Mas a coisa começa a sair fora do controle, e o que era pra ser apenas uma seção de "psicanálise dolorida" passa a se transformar numa organização terrorista, que insiste em acabar (no sentido mais geral dessa palavra) com tudo o que é relacionado ao capitalismo e ao consumismo. E é aí que Clube da Luta se mostra um filme até pacifista (sim, pacifista) pois propõe que mudanças definitivamente não são feitas com violência. TODAS as lutas que aparecem no filme têm sentido metafórico. Não estão ali pra comporem somente cenas extremamente violentas. Essas lutas existem para demonstrar o desespero em que uma pessoa pode se encontrar quando descobre que sua vida é um grande NADA, e que o sonho de ser rico, famoso e bonito não passa de um sonho mesmo. Por isso é injusto chamar esse filme de "fascista". O que o filme mostra é a necessidade de viver, de sentir algo (como dor), de perceber que a vida não é somente carros e apartamento "da hora".

As mensagens anti-consumismo são mais do que claras ("Você NÃO é o seu carro...") e também são otro ponto forte do filme. Mas, a genialidade de Clube da Luta está na sua ousadia. Ousadia de ter um roteiro tão imprevisível (com um final idem), ousadia de mexer ainda mais na ferida da sociedade moderna, ousadia de ir fundo na mente humana e utilizar elementos nunca antes vistos, ousadia de ser violento (apesar de justificável) e correr o risco de ser chamado de facista... isso é Clube da Luta.

Sem dúvida, um filme mais do que brilhante. Um dos melhores da década.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cine Campus: Expressionismo Alemão


EXPRESSIONISMO ALEMÃO

por Michel Silva

A ARTE EXPRESSIONISTA
As mudanças políticas ocorridas no final do século XIX, particularmente a fundação do Segundo Reich Alemão (1871), foram o pano de fundo no qual surgiram as Secessões, grupos artísticos associados à origem do expressionismo. A unificação dos 25 estados, em torno à Prússia e sob o poder do seu rei (Guilherme I), foi acompanhada da impossibilidade do recém-fundado império em exercer um controle absoluto sobre a política cultural de todas as regiões. Com isso, os estados mantiveram uma relativa independência no que se refere à arte que se produzia. Entretanto, na década de 1880 foi institucionalmente oficializada a pintura que glorificasse a dinastia do imperador Guilherme I, principalmente pela presença junto a este de Anton von Werner (1843-1915), representante de uma linguagem artística voltada à representação de temas históricos.

Diante dessa medida autoritária, surgiram as Secessões, grupos artísticos independentes nos quais estavam os germes do Expressionismo, principalmente Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden, em 1905, e Der blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), fundado em Munique, por volta de 1911. O circulo de A ponte foi especialmente influenciado pelo avanço das artes gráficas, daí seus primeiros experimentos terem sido, além da pintura, a xilogravura. O contraste claro-escuro e a “violência” contra a madeira são elementos que fizeram desta técnica uma das mais usadas pelos expressionistas. Já O Cavaleiro Azul caracterizava-se pela ênfase no aspecto espiritual, distante das provocações dos artistas de A Ponte, que caracterizavam como exageradas. O representante mais conhecido de O Cavaleiro Azul foi Wassily Kandisky (1866-1944), para o qual as artes plásticas não deveriam mais ter como objetivo a ênfase nos valores de uma sociedade “morta pelo materialismo”.

O fato de o Expressionismo ter surgido às vésperas da Primeira Guerra Mundial não foi mero acaso. O seu surgimento acontece quando o império alemão, acompanhando toda a Europa, caminhava para a "fase" superior do capitalismo”, o imperialismo, época de crises e revoluções, contra o qual já se pronunciavam escritores como Heinrich Mann e Karl Kraus. Era uma sociedade dominada pela grande burguesia, militares e nobres, que na arte encontrava sua representação em uma estética autoritária, acadêmica e oficializada. A partir disso, toda uma geração de artista começou a se rebelar contra os valores herdados por um século que, no seu entender, já havia acabado, atitude antiburguesa que na Alemanha detonou o Expressionismo.

Os artistas expressionistas eram mais simpáticos aos marginais da sociedade burguesa (prostitutas, ladrões, mendigos etc.) do que propriamente ao proletariado. Os Expressionistas se aproximavam da classe trabalhadora à medida avançava a revolução no mundo, cujo principal momento se deu na Rússia (1917), onde foi vitoriosa, seguida pela Alemanha (1918-9) e Hungria (1919). Nas jornadas revolucionárias ocorridas na Alemanha, alguns expressionistas participaram das lutas ao lado dos trabalhadores.

Divide-se o Expressionismo em três fases, identificando suas primeiras manifestações na literatura e nas artes plásticas. A primeira fase, entre 1910 e 1914, chamada “Expressionismo precoce”, foi a que pretendeu romper com os modelos estéticos e de pensamento anteriores, por isso também chamada de fase do “destrucionismo”. A segunda fase, entre 1914 e 1918 (o “Alto-Expressionismo”), ocorrida exatamente durante a guerra, é considerada uma fase de maturidade e auge de criação, sendo uma época fortemente marcada pela busca de alternativas e saídas para a humanidade. A terceira fase (1918-25), chamada de “Expressionismo tardio”, quando o Expressionismo chegou a outras artes, é considerada a de mais difícil periodização por conta da diversidade que marcou essa época.

O Expressionismo chegou ao cinema em 1919, ou seja, de forma tardia se comparada às demais artes. Praticamente surgido na República de Weimar (1919-33), quando a literatura expressionista estava em declínio, o cinema acabaria falando de temas comuns aos seus antecessores, como a morte, a angústia da grande cidade e o conflito de gerações. O aspecto mais importante a se destacar, no entanto, se refere à inovação estética. Seus atores e diretores, a maioria oriundos do teatro, passaram a utilizar técnicas já desenvolvidas no palco, como o jogo de luzes e holofotes, presentes na maioria dos filmes. Em vez de movimentos de câmera, a iluminação de um detalhe, a aparência fantástica das sombras ou a máscara nas lentes da câmera compunham os efeitos mais freqüentes. Os espelhos foram outro recurso importante (usado, por exemplo, para deformar rostos). Depois de 1925, em diferentes tipos de arte, com destaque para o cinema, foram produzidas obras que mantinham ainda características expressionistas. Porém, o ano de 1933, com ascensão do nazismo ao poder na Alemanha, de certa forma marca o final do expressionismo.

O EXPRESSIONISMO NO CINEMA
As primeiras pesquisas estéticas do cinema expressionista aconteceram na Dinamarca, nas primeiras décadas do século XX. Nessa época, muitos cineastas deste país abordaram em suas obras o tema da angústia, da loucura e outros mais místicos, envolvendo bruxaria. Nas cenas de alucinação eram exigidos certos efeitos, cuja realização obrigava os cineastas a recorrerem a técnicas fotográficas novas, bem como a cenários simplificados que permitissem o jogo de luzes sobre ângulos vivos e volumes claros.

Na Alemanha, o filme O estudante de Praga (1913), protagonizados pelo ator teatral Paul Wegener (1874-1948), foi inspirado nessas produções dinamarquesas, tendo sido o primeiro filme alemão a ser vendido para o mercado externo. Foi realizado pelo diretor sueco Stellan Rye (1880-1914) e produzido pela Union Film (depois Decla Bioscop), reunindo diversos temas da literatura fantástica, como o pacto do Diabo de Fausto, a corrupção da imagem de Dorian Gray e a idéia do duplo dos contos de Edgar Allan Poe e E. T. A. Hoffmann.

No filme, o jovem Baldwin, considerado o melhor espadachim de Praga, está arrasado pela falta de dinheiro. Rejeitando os avisos de uma cigana, aceita fazer acordo com o misterioso mago Scapinelli para obter fortuna e conquistar sua amada, a condessa Magritt. O acordo assinado por Baldwin permite que, em troca de uma fonte inesgotável de moedas de ouro, o mago possa tirar qualquer coisa de seu quarto. Scapinelli escolhe retirar o reflexo do estudante no espelho.

Baldwin passa a freqüentar a alta sociedade de Praga e a cortejar, clandestinamente, a condessa. Um de seu seus encontros é marcado no cemitério judeu, onde, pela primeira vez, o espectro de Baldwin começa a aterrorizar o casal. Chamado a um duelo pelo Barão, pretendente de Magritt, Baldwin promete ao pai da condessa que não matará seu adversário, mas o espectro se adianta e mata o Barão. Desesperado, Baldwin volta para casa e lá encontra o fantasma. Atira nele, recuperando seu reflexo, mas descobre que o tiro atingira seu próprio coração. Depois, Scapinelli vai ao quarto de Baldwin e rasga o contrato sobre seu cadáver. No final, vê-se o espectro empoleirado sobre o túmulo do estudante.

Este ainda não é, no entanto, um filme Expressionista no sentido exato da palavra, mas significou a procura de uma forma de expressão que pudesse incluir na obra recursos pictórios e plásticos do expressionismo. Outros filmes recorreram ao insólito que impregna a natureza ou certos ambientes reais – como um velho cemitério, ruas tortuosas e sombrias do gueto –, tentando obter uma expressão mais ou menos simbólica.

É, no entanto, o filme O Gabinete do Dr. Caligari (1919), dirigido por Robert Wiene (1880-1938), a primeira tentativa de produzir um cinema estritamente Expressionista. Nos filmes produzidos após Caligari houve uma integração bastante especial entre os efeitos de luz, os atores, a decoração, a maquiagem, os vestuários, os cenários, formando um conjunto plástico bastante exagerado. Essa estilização de todos os elementos causava a impressão de que uma pintura expressionista havia adquirido vida e começado a se mover, efeito este que foi chamada de caligarismo. O filme de Wiene trazia uma história de horror vivida por personagens sem qualquer ligação com a realidade e cujos sentimentos apareciam traduzidos com um drama plástico repleto de simbolismos.

O filme conta a história de um hipnotizador, o Dr. Caligari, que chega à pequena cidade de Holstenwall com um espetáculo em que seu assistente, o sonâmbulo César, adivinha o futuro das pessoas. Em seguida à chegada de Caligari, começa a acontecer uma série de crimes, fazendo com que as suspeitas se voltem para o sonâmbulo. O jovem Francis acaba descobrindo que o mandante dos crimes é o próprio Caligari. Todas as formas no filme fazem referência à situação das personagens. O cenário assimétrico mostra ruas tortas, casas tombadas, contrates exagerados de sombra e luz. César, símbolo da agressividade inconsciente, está associado aos triângulos (seus olhos são sombreados e pintados com triângulos brancos). A jovem filha do burgomestre está associada a formas verticais e graciosas. Seu quarto é amplo e agradável, quase vazio, com as janelas abertas mostrando o céu.

Neste filme, as linhas suaves ou desproporcionais, volumes e luzes, traduzem a mentalidade das personagens, seus estados de alma, suas intenções. As formas mais aptas a simbolizar o drama são acentuadas intencionalmente, orientando o espírito do espectador ruma à idéia do que se pretende sugerir. Cria-se, no filme, uma atmosfera de pesadelo, que teria sido impossível criar sem um suporte da concepção estética expressionista. As linhas e planos tortuosos, oblíquos e abruptos do cenário provocam no público um efeito muito diferente do que teria se conseguido por uma composição visual harmônica. Os planos são inclinados, janelas são mais largas na parte de cima do que na base. Todas essas imagens somadas representam um mundo interior, uma construção mental que nega a realidade objetiva.

A visão de perspectivas falseadas e imprevisíveis, de formas distorcidas, a consciente intenção de evitar linhas verticais e horizontais despertam no espectador os sentimentos de insegurança, inquietude e desconforto. As casas apenas esboçadas no viés de uma ruela parecem de fato sacudidas por uma extraordinária vida interior.

À Caligari seguiram vários filmes inovadores estética e tecnicamente, comprometidos com uma estética de influência expressionista. No entanto, depois de 1924 poucos ou mesmo nenhum filme iria se comprometer tão fielmente com o estilo expressionista, apesar de muitos continuaram mostrando, seja pela expressividade do cenário, seja no tratamento da luz, seja na morbidez dos temas, a influência destas primeiras experiências expressionistas. Entre esses filmes, não podemos deixar de destacar M – O vampiro de Düsseldorf (1931), de Fritz Lang (1890-1976), sem dúvida uma das maiores obras-primas da história do cinema.

Cánepa defende que não houve uma escola de Cinema Expressionista, pois não havia uma corrente cinematográfica que buscasse traduzir os princípios daquele movimento de vanguarda. Para Cánepa, houve sim alguns filmes com traços da Arte Expressionista que ajudaram a construir um mito sobre sua existência. Entendemos, no entanto, que no caso de serem levados em consideração tais critérios nessa análise, chegaremos à conclusão de que não houve qualquer expressionismo em qualquer outra arte e mesmo qualquer corrente artística em qualquer arte.

Entendemos que ao falarmos em Expressionismo falamos de uma corrente que busca expressar através de distorções as impressões que o mundo exterior causa no artista. É uma forma de expressão de uma época específica, a qual reflete de forma decisiva o estado de espírito dos artistas. A partir desses critérios, entre outros que a ele se submetem, podemos entender que o referencial fantástico, a deformação expressiva, o isolamento e a monstruosidade, a maldade como personagem e herói, identificados inclusive por Cánepa,  são as características estéticas centrais deste cinema, e que é a partir da análise destes aspectos que se pode definir, primeiro, que existiu de fato um cinema expressionista e, segundo, que outros filmes apenas apresentam traços expressionistas, como acima salientamos.

CONCLUSÃO
Entendemos que o Expressionismo foi manifestação cultural de uma situação histórica específica, marcada pela crise do sistema capitalista. Nessa época de crise econômica, política e social, os jovens artistas, direta ou indiretamente, expressaram seu descontentamento e críticas em suas obras e, ainda que de forma gradativa e inconsciente, se aproximaram de uma alternativa política, alternativa essa materializada na revolução alemã de 1918-19, contra a burguesia e o governo dos principais partidos da esquerda daquele país, lutando pelo socialismo, pela igualdade, pela justiça, pelo poder dos conselhos de trabalhadores que iam surgindo em todo país. Alguns artistas inclusive estiveram próximos da pequena Liga Spartakus, dirigida por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht. Contudo, a repressão e a ausência de uma direção política, de um partido revolucionário que desse conta de organizar o conjunto dos trabalhadores, permitiram a recomposição do regime, através da Assembléia Constituinte e da acima referenciada República de Weimar.

Diante disso, acreditamos ser preciso fazer duas importantes reflexões. Primeiro, que o artista precisa fazer passar por suas veias o sentido e as paixões de sua época, expressando, ainda que não diretamente, esse sentimento em suas obras de arte. Ele deve estar engajado politicamente, deve fazer parte de sua época e, se forem essas suas convicções, lutar quotidianamente por uma nova sociedade. Sua arte, de alguma forma, irá expressar seu engajamento, suas idéias e ações.

A segunda reflexão se refere à necessidade de se buscar um projeto comum, uma identidade coletiva, como o fizeram, ainda que de forma descompassada e bastante fragmentada, os expressionistas. Com isso eles conseguiram fazer com que o passar dos anos e a ascensão do nazismo não apagassem a imagem do que é Expressionismo (ainda que em muitos casos distorcida pelas diferentes interpretações).

Isso quer dizer que somos contrários a qualquer visão que se proponha a dizer que não houve um cinema expressionista, ainda que essa seja questão difícil e polêmica. Dizer que não houve um cinema expressionista é o mesmo que dizer que não houve qualquer arte expressionista. Assim como os futuristas russos e os surrealistas franceses, os Expressionistas procuraram deixar, ainda que de forma fragmentada, algumas considerações sobre seu pensamento, sua estética, sua visão do mundo e da arte. Não foram, porém, sistemáticos nem muito menos buscaram pensar no domínio de todas as artes. Entendemos que o fato de ter havido uma arte que tenha características expressionistas, e que vários artistas se propusessem a utilizá-las no cinema, é motivo suficiente para que se possa falar em um Cinema Expressionista e não apenas em um cinema com traços expressionistas.

Fonte: http://cinecultclassic.blogspot.com/2010/06/expressionismo-alemao.html

Trailer do filme O Gabinete do Dr. Caligari

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

On the Road


Easy Rider

Procurar duas pontas de caminhos tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo; discutir ideologia a partir da contra-ideologia, ou o que é pior, discutir ideologia onde ela mora enfaticamente: na cultura americana ou o seu american live. Easy Rider é um filme de motoqueiros para motoqueiros; uma das pontas desta belíssima película é desvendar este mundo no que ele tem de fantástico: o visual, a ausência de destino e principalmente, captar o espírito da viagem em si, da saída de casa e sua simbologia (o relógio caído) do atravessar o deserto escaldante e perpassar uma américa dividida entre o o rural e o progresso urbano.

A sedução de uma highway, no meio de um imenso deserto de sois e planaltos que se avolumam densamente, como psicodélicas imagens retratadas a pincel e esponja; o delírio de andar, sempre e sempre em caminhos, desvios e desvãos que misturam a realidade com o movimento. Montados em suas motos, ambas de estilos diferentes: chopper com guidão alto, bem tradicional e esportiva no sentido harley; e outra guidão t-bar, quase uma dragster dos anos 70, quicando no asfalto bruto enfileirado na areia e visões amarelas da estrada.

Uma lenda se constrói a partir de sensações e devaneios, onde a presença milagrosa da imagem, do vento, do barulho do motor aberto de dois cilindros em V podem proporcionar; esta lenda passa a ser mito na medida em que é modelo, símbolo e passa a mediar o desejo incontrolável de imitar, sentir o que se sente quando se pega uma estrada com uma motocicleta. Easy Rider é um mito incontrolável dentro do desejo de viajar e transformar um ato simples e transloucado em um símbolo de liberdade. Entretanto, é justamente aí que a outra ponta da corda é acessada e toma lugar no preâmbulo ideológico. Liberdade para quem? para que? ou mais profundamente: o que é a liberdade? Um sonho de escapar do tempo e da espacialidade comum da rotina, embrenhada em delírios? um rol de sensações soltas e caóticas que se depreendem do asfalto, do barulho hipnótico do motor, das curvas, de sentir o corpo sendo projetado para frente e flutuar sobre duas rodas? Ou a liberdade "freedom" americana? um rótulo invisível e inexequível?

Ter suas escolhas e poder realizá-las em um país que supostamente é livre, mas que é cometido por um surto de preconceito racial, ético e social? Uma liberdade que necessita de drogas para existir e se manifesta apenas em estado de embriaguês? Buscar um sonho de liberdade, mitificado por uma Harley Davidson da Route 66, sem tempo e espaço, sem obrigação nem restrição, adocicados por entorpecentes, desfaz fatalmente aquele conceito de liberdade que supostamente seria criado e exequível; Posso afirma que o filme trata de desilusão; aquela rápida e voraz facada que recebemos da pior das pessoas; nós mesmos; mas não posso sentir-me desiludido pelo filme, tendo em vista que ele é muito mais do que ansiava; é um tratado belíssimo sobre motocicletas e homens, que daria a real medida entre o ser e o querer-ser, que logo desenboca na essência das coisas; nem tudo que queremos e conseguimos é bom.

Meu desejo incontrolável por novas sensações me faz pensar que agora será melhor ainda; agora, uma viagem de moto, ao estilo easy rider, seria muito melhor aproveitada; saiu um mito e entrou uma verdade: amo motociletas e amo viajar com elas em minha mente. Esta obra é uma referência para analisar o desmoronamento da contra-cultura e repensar o conceito de liberdade. Por outro lado, é um "cult" no mundo das motocicletas.

Fonte: http://teoliterias.blogspot.com/2007/05/easy-rider-sem-destino-filme.html

Trailer do filme Easy Rider

A ENCRUZILHADA

Diversos atores ficam marcados por papeis que mudam sua vida e o levam ao sucesso. Exemplos: Michael J. Fox (trilogia De Volta para o Futuro), Christopher Reeve (Superman) e Ralph Macchio (trilogia Karatê Kid). Que é impossível desvincular personagens tão marcantes e seus atores é fato. Mas, todos eles fizeram bons trabalhos fora seus principais “cartões postais” a sétima arte. Fox fez ótimo trabalho em Pecados de Guerra, ao lado de Sean Penn. Reeve foi espetacular no romântico Em Algum Lugar do Passado e Macchio, talvez o que realmente mereça ficar mais marcado pelo seu grande sucesso, pelo menos fez um grande trabalho fora o lutador de Karatê mais famoso do cinema: A Encruzilhada.

A Encruzilhada conta à história de um cara, que aprendeu a tocar guitarra em uma universidade renomada de música e que acaba caindo na estrada ao lado de um velho gaitista negro, em busca das músicas inéditas do bluesman Robert Johnson. O garoto é interpretado por Macchio e o filme tem uma participação muito especial de Steve Vai, no final, em um monumental duelo de guitarras em que o som que sai da guitarra de Macchio vem, na real, do mestre Ry Cooder. O filme é um belo tributo às raízes do blues, tem direção de Walter Hill - um dos cineastas mais Rock'n'roll da década de 1980 - e toda a trilha tem blues elétrico de Ry Cooder.

Esse é um daqueles filmes de estrada, estilo Easy Rider, aonde personagens vão sendo apresentados em situações e experiências de vida que são soberbas. Mas, como todo grande filme de estrada ele não abre concessões para o final politicamente correto, Thelma & Louise que nos diga. Sua preocupação é nos mostrar que mais importante que o resultado final, temos que saborear também o longo caminho que percorremos.

Não importa se você goste ou não de blues. Se você gostar de música veja e sinta A Encruzilhada. Garanto que a emoção será divina e emocionante como uma boa melodia de blues.

Fonte: http://www.cranik.com/a_encruzilhada.html

Trailer do filme A Encruzilhada