sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Semana dos Calouros





Trainspotting de Iggy Pop: Lust for Life

Por Breno Rodrigues de Paula

LUST FOR LIFE, Johnny vem pela rua abaixo correndo-, disseram-lhe: escolha um trabalho, uma família, um seguro, uma roupa, um carro, um futuro-, uma vida. Há porquê escolher? Ele deve correr pelas ruas de Edimburgo. Quando “Trainspotting-Sem limites” (Trainspotting, U. K., 1996) foi lançado no Festival de Cinema de Cannes do mesmo ano, na categoria “Um certo olhar” (Un Certain Regard)-, em uma sessão “maldita”, a hora em que foi exibido-, não condizia com o impacto e com a sua qualidade.

Quentin Tarantino havia causado a mesma sensação dois anos antes com “Pulp Fiction: Tempos de Violência” (Pulp Fiction, EUA, 1994), se bem que nunca fui fã de seus filmes-, com uma pequena exceção do seu primeiro longa “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, EUA, 1992), misture a fase noir de Godard e Scorsese em “Táxi Driver” (EUA, 1976) e voilá-, tem-se Quentin “popiorado”.

“Trainspotting-Sem limites” é uma produção independente escocesa dirigida por Danny Boyle, baseada no romance underground homônimo de Irvine Welsh-, com excelentes atuações dos estreantes atores Ewan MacGregor, Johnny Lee Miller e Kelly MacDonald. O por que do filme tornar-se um dos mais cultuados da década de 90 do século passado, mesmo mostrando a trajetória de um curto período de vida de um jovem junk? Ele não é moralista boçal como outros filmes da mesma década como “Diário de adolescente” ou “Cristiane F.”.

As questões mostradas no filme não são de caráter moralista, e sim situacional-, há uma correlação entre todos os elementos narrativos e formais. Tem-se um excelente tratamento da Linguagem Cinematográfica com boa Direção e Fotografia-, além da edição. O grande destaque fica por conta da trilha sonora, que tem Iggy Pop como elemento central e divulgador-, tanto que o videoclipe da música “Lust for life” e o trailer dialogam entre si. Putz! A música “Perfect Day” de Lou Reed dá ritmo a melhor cena do filme. Ah! Cansei de escrever. Vou ouvir “TRANSFORMER”, acabara de ver Trainspotting-, agora, escutar "Berlin".

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Neste Mundo aborda o drama dos refugiados 

Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2003, Neste Mundo, do diretor inglês Michael Winterbottom, apaga deliberadamente a fronteira que separa a ficção do documentário para compor um drama ao mesmo tempo seco e pungente sobre os refugiados do mundo. 

Winterbottom personaliza o relato na pele de dois jovens afegãos, Enayat (Enayatullah), de cerca de 20 anos, e seu primo órfão, Jamal (Jamal Udin Torabi), de 12.
Refugiados no campo de Shamshatto, no Paquistão, eles dividem abrigo num território de casas paupérrimas e ruas de terra batida com milhares de compatriotas que deixaram o país desde 1979, data da invasão soviética, e que continuaram saindo, especialmente após os bombardeios dos EUA em 2001. 

Assim, qualquer perspectiva de vida parece melhor fora dali, e os dois decidem escapar por terra para Londres, onde um outro primo os ajudará. 

O ponto forte do filme é o realismo, obtido a partir de um roteiro (de Tony Grisoni) montado sobre entrevistas de refugiados que passaram pelo mesmo calvário que os dois rapazes estão prestes a iniciar. 

A filmagem com pequenas câmeras digitais concede à narrativa a urgência necessária à ambientação da história. Às vezes, as imagens são tão fluidas como se a câmera estivesse debaixo da pele dos dois protagonistas. A escassez de luz e as sequências tremidas, bem como a granulação dessas imagens, contribuem para concretizar, para o espectador, toda a instabilidade da situação de Jamal e Enayat - interpretados por dois amadores. 

Jogados de um canto a outro, subindo e descendo de caminhões precários, quase sempre escondidos no meio de caixotes de legumes ou rebanhos, ou sofrendo risco de sufocamento dentro de contêineres metálicos, privados de seu dinheiro, roupas e da própria língua, estes refugiados jogam toda sua vida numa roleta-russa da qual nem todos escapam. 

Ao abrir mão de explicar a psicologia dos personagens, substituindo-a por suas reações instintivas a perigos e arbitrariedades, como a exploração pelos "contrabandistas de gente" e policiais de fronteiras, o filme coloca o espectador na pele desta multidão de indesejados.
Desta empatia, Neste Mundo extrai sua força, ao mesmo tempo que desvenda, com chocante clareza, o mecanismo de um aviltante comércio humano.