domingo, 20 de junho de 2010

Die Fetten Jahre Sind Vorbei



Adeus, Lênin!

por Érico Borgo

Depois da queda do muro, em novembro de 1989, os alemães orientais, que viviam sob o regime comunista, abraçaram o capitalismo do ocidente, seus produtos e consumismo. Entretanto, uma década depois, um sentimento nostálgico pelo antigo governo espalhou-se pela nação, alavancado pelo alto desemprego e insatisfação pela situação econômica que passavam. Chamado de "Ostalgie", o movimento fez com que fábricas de produtos comunistas (como cosméticos, produtos de banho, produtos de limpeza e alimentos) voltassem à ativa, programas de TV com entrevistas com políticos e atletas pré-queda fossem lançados, jovens começassem a vestir roupas com temáticas pró-GDR (a Alemanha Oriental), etc. Outro importante fruto desse movimento foi a comédia Adeus, Lênin! (Goodbye Lenin!), tremendo sucesso de bilheteria por lá.

O filme, escrito e dirigido por Wolfgang Becker (os outros quatro trabalhos do cineasta permanecem inéditos por aqui), começa algumas semanas antes da queda do muro. Christiane (Katrin Sass) é uma apaixonada colaboradora do regime comunista. Aos quarenta e tantos anos, presencia uma manifestação nas ruas na qual seu filho Alex (Daniel Bruhl) é espancado por policiais e preso. Chocada, ela sofre um colapso e entra em coma no meio da confusão.

Quando Christiane desperta, vários meses depois, o médico revela à família que seu coração está extremamente fraco e que qualquer choque será fatal. Então, como explicar à mãe que o muro de Berlim caiu enquanto ela convalescia e que as duas Alemanhas foram unificadas sob um governo capitalista? A solução encontrada por Alex é aparentemente simples: Manter, pelo menos dentro do apartamento da família, a Alemanha oriental viva.

O filho começa então uma frenética luta para manter todas as influências externas longe do santuário socialista que montou em casa. Irmã, genro e namorada precisam vestir-se como antes, a comida precisa ser estatal e estações de rádio e TV precisam exibir os mesmos programas que transmitiam antes da transição. Mas o que fazer quando a Coca-Cola coloca um imenso painel no prédio em frente à janela do quarto?

Além da excelente premissa, o filme conta com um ótimo elenco. Os dois protagonistas fazem um trabalho irretocável, ao lado de coadjuvantes divertidos, como Maria Simon (a irmã de Alex), que começa a trabalhar entusiasmadíssima num Burger King e vestir-se de maneira New Wave. Merece destaque também Florian Lukas, o amigo de Alex que filma casamentos achando que é o novo Stanley Kubrick.

Enfim, sensível e recheado de ótimas piadas, Good Bye, Lenin! é algo raro, uma comédia alemã que prova que a tal "frieza" dos germânicos pode estar degelando enquanto o país sofre importantes mudanças.

Fonte: http://omelete.com.br/cinema/iadeus-lenini/

Trailer:

Edukators

por Sula Carvalho

Do diretor alemão Hans Weingartner (mesmo de O Som das Nuvens) Edukators é um filme político que debate e critica a mentalidade capitalista e suas conseqüências no mundo contemporâneo. Jan (Daniel Bruhl, de Adeus, Lênin) e seu amigos Peter (Stipe Erceg) se autodenominam “Os Edukadores”, e tomam para si a função de lutar contra a opressão da atual ordem social, política e, principalmente, econômica. Á noite, disfarçados e encapuzados, eles invadem mansões e fazem a maior bagunça com os móveis e objetos da casa. No entanto, eles nunca levam nada. Deixam apenas bilhetes ameaçadores com frases como “Seus dias de fartura estão contados”. Quando a namorada de Peter, Jule (Julia Jentsch) fica sabendo das invasões, sugere que eles entrem na casa da um ricaço para quem ela deve muito dinheiro. As coisas não dão muito certo e são surpreendidos pelo proprietário da casa. A partir daí, a vida dos três (assim como o filme) toma um rumo totalmente diferente.

Em segundo plano à luta política e ideológica, há o triângulo amoroso entre os protagonistas que, na verdade, só serve para descansar o telespectador dos diálogos cada vez mais fortes e dar um toque mais pop ao filme. Apesar dos diálogos intensos (e às vezes cansativos) da segunda metade do filme, quando toma lugar discussões sobre a luta sócio-política contra a burguesia, Edukators convence devido à ingenuidade e pureza dos jovens protagonistas e à esperança que alimentam de que realmente podem mudar o mundo (que jovem nunca quis fazê-lo?).

O filme, que foi muito discutido no circuito alternativo nacional e internacional, recebeu uma indicação ao European Film Awards em 2004 de melhor ator para Daniel Bruhl e fez sucesso no Festival de Cannes 2004. Com um roteiro nada previsível, atuações incomparáveis (principalmente por parte de Daniel Bruhl e Julia Jentsch), trilha sonora rica (destaque para a versão de Jeff Buckley para “Hallelujah”, simplesmente lindo) e com um final espetacular e infalível, Hans Weingartner mostra a força do cinema alemão contemporâneo.

De Edukators, cada um tira sua mensagem, que será provavelmente aquela que lhe for mais cômoda. Para isso, o filme deixa margem a duas interpretações. A primeira, é a de que o tempo passa, os ideais morrem, e as boas idéias e convicções se vão junto com a juventude. A segunda nos lembra, no entanto, que os únicos que podem mudar o mundo são aqueles que realmente acreditam que isto seja possível e tentam fazer alguma coisa a respeito. Qual será a sua forma de interpretar?

Fonte: http://www.delfos.jor.br/conteudos/index_interna.php?id=385&id_secao=1&id_subsecao=2

Trailer:

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