quinta-feira, 28 de abril de 2011

Javier Bardem



 
Mar Adentro
(Mar Adentro, 2004)
Por Rodrigo Cunha
       
Um filme polêmico, de personagens fortes e que, com a mais absoluta certeza, vai te levar às lágrimas.

Já haviam se passado alguns bons anos desde que a Espanha conquistara seu último Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com seu mais importante cineasta da atualidade, Pedro Almodóvar e o seu Tudo Sobre Minha Mãe. Porém, ela sempre se manteve viva durante as premiações, como o Oscar de Melhor Roteiro para o mesmo Almodóvar, por Fale com Ela, além de uma honrosa indicação à Melhor Diretor pelo mesmo trabalho. É de se espantar então que, em 2005, o indicado do país à categoria não seja o novo trabalho do diretor, A Má Educação, e sim um filme polêmico e poético de um diretor chileno chamado Mar Adentro. A escolha não poderia ter sido mais correta.

Ousaram, mas colheram os frutos nesta noite de 27 de Fevereiro de 2005. O novo filme do cineasta Alejandro Amenábar é polêmico, com bastante conteúdo a ser discutido e ainda reserva um importante espaço para a poesia, que eleva ainda mais o seu trabalho no status da arte. É um filme lento, mas que consegue sustentar muito bem o seu ritmo por ter diálogos afiadíssimos e personagens extremamente cativantes, o que nos faz importar com seus destinos e entender suas atitudes e sofrimentos.

Conta a história real de Ramón (Javier Bardem), um homem que era totalmente saudável, inteligente e viril, até sofrer um acidente e ser obrigado a viver, contra sua vontade, paralisado em uma cama, dependendo da ajuda de seus familiares para todas as suas necessidades básicas. Vinte e seis anos depois, ele consegue uma advogada disposta a ajudá-lo em seu caso. Confrontando questões morais, religiosas e sociais, Ramón tenta legalizar uma petição que lhe dê autorização  para cometer eutanásia, sem que nenhuma das pessoas que o ajudarem sejam prejudicadas por suas ações.

O interessante é que a personalidade de Ramón é bastante forte, de idéias firmes e de atitudes grosseiras com quem as contraria. Apesar disso, Javier faz um trabalho incrivelmente competente, nunca deixando que tenhamos raiva daquela pessoa, mesmo que ele não esteja com a razão absoluta em seus atos. Razão que aqui fica difícil de encontrar, porque por mais que a moral nos conduza a responder que ele deveria procurar viver ao invés de morrer, todas as suas atitudes, lembranças e argumentos nos remetem à uma dor intensa em que o personagem vive. Nesse sentido o filme é muito feliz, pois consegue colocar o personagem rindo e, ao ser questionado o porquê disso, ele responde algo bastante forte e chocante. Simplesmente um sacrilégio Javier não ter sido ao menos indicado para o Oscar de Melhor Ator deste ano.

É um filme bastante depressivo, forte, mas que pode fazer muitas pessoas suspirarem de alívio por não estarem na mesma situação. E ao mesmo tempo que poderia servir de péssimo exemplo para quem vive do mesmo jeito, Ramón tem atitudes bastante pessoais, deixando sempre claro que ele não generaliza o caso. É apenas ele, com a vida dele, e ninguém tem nada com isso. O famoso não ajuda, mas também não atrapalha. Outro ponto importante a ser dito é explorar as possibilidades que uma pessoa nesse estado tem, como o fato de Ramón conseguir transformar em poesia suas dores e sentimentos.

Nos momentos em que Amenábar deixa a imaginação de Ramón tomar as rédeas da narrativa, temos alguns dos momentos mais bonitos do filme, que ajudam a entender melhor as vontades e sonhos do personagem. Mesmo que alguns efeitos não ajudem muito na verossimilhança daquilo que estamos vendo, há uma seqüência absurdamente bonita, que vai fazer muitas pessoas se derramarem em lágrimas ainda no meio da projeção - sim, a seqüência do vôo. O leque de personagens que o rodeiam também ajudam a construir um cenário mais forte e detalhado, pois entendemos o que cada um sente e reage a respeito da situação.

O maior defeito de Mar Adentro é que ele esteja chegando em um momento onde a questão da eutanásia, apesar de polêmica, bem trabalhada e ainda chocante, está um pouco saturada no cinema. Ainda assim, apresenta uma visão diferente e mais depressiva do que outros filmes que tratam sobre o mesmo assunto. Tem também um certo problema de ritmo com seus personagens, que apesar de maravilhosos e não se aplicar ao personagem principal, as vezes alguns somem e ficam muito tempo fora das telas, para reaparecer muito tempo depois e fazer alguma coisa importante para a trama. Não confundam ritmo de personagens com o ritmo do filme, pois esse é muito bom e nos mantém sempre presos à história que está sendo contada.

Alejandro Amenábar é um diretor em um grande momento. Depois que Tom Cruise comprou os direitos para refilmar Abre Los Ojos, que resultou em Vanilla Sky, em troca de financiar a obra-prima Os Outros para o diretor, ele alcançou projeção internacional com seus trabalhos. Agora então, figura entre os grandes nomes do cinema mundial, um diretor jovem, corajoso e que ainda pode dar frutos maravilhosos em seus próximos trabalhos. Prepare-se para levar um soco no estômago em seus conceitos durante e depois de assistir a essa pequena obra-prima do cinema espanhol.




Sombras de Goya

(Goya's Ghosts, 2006)
Por Demetrius Caesar  

Milos Forman retorna à direção com um filme cheio de erros insuportáveis.

Sombras de Goya é um filme cheio de erros insuportáveis, sendo o maior deles a escalação de Natalie Portman para o papel principal duplo, de mãe e filha espanholas. O objetivo da obra é contar um pouco da história do pintor Francisco Goya, um dos maiores da história da arte, sem cair na cinebiografia de artista, que parece ter virado um subgênero em Hollywood, tamanha a quantidade de exemplares nos últimos anos. Em alguns momentos, o filme até que conseguer voar alto e ser belo, mas em seguida derrapa miseravelmente.

Começa engenhoso e criativo. Estamos na Espanha do início do século 18, o terror da Inquisição soterra a rica Espanha. Seus padres carrascos, ao verem as litografias de Goya, querem logo a condenação do artista. Um dos inquisidores (Javier Bardem) o protege pois, vaidoso, quer ser pintado pelo então maior artista da Espanha (Goya já era o pintor oficial do rei Carlos IV).

Enquanto isso, os inquisidores levam para as masmorras católicas uma jovem de família rica apenas por ela ter rejeitado carne de porco numa taberna, sendo acusada de judaísmo. O pai da moça recorre então a Goya para interceder com os carrascos e daí entra o pintor, interpretado com elegância e distanciamento brechtiano por Stellan Skarsgard.

Mas a Igreja Católica, cega de cobiça pelo ouro espanhol, via em qualquer judeu uma ameaça, recusa qualquer piedade em relação à moça, o que leva seu pai a atitudes desesperadas. O padre vai às catacumbas conhecer a moça torturada e termina por estuprá-la, gerando-lhe uma filha, menina esta que vai resumir um pouco a história da Espanha pós-Revolução Francesa: o prostíbulo da Europa.

Até aqui, é o que o filme tem a sensibilidade artística européia do diretor tcheco Milos Forman (radicado nos EUA desde a década de 60) aliado à perícia do roteirista francês Jean-Claude Carrière. O filme caminha elegante e refinado, com belas imagens, algum ritmo e diálogos razoáveis. Funcionam aqui tanto a produção esmerada do produtor Saul Zaentz (de O Paciente Inglês) quanto a direção de arte de Patricia von Braumeister. Destaque para quando o filme focaliza todo o processo de se produzir uma serigrafia, que tornou Goya não só famoso em seu país, mas em toda a Europa, em especial a França, então um caldeirão fervilhante que desaguaria na Revolução.

Juntos, diretor e roteirista tentaram contar um pouco da história da Espanha, da Europa, jogaram com filosofia libertária do iluminismo e principalmente contra todas as formas de submissão do ser humano, seja religiosa ou política, além de flertar com as pinturas de Goya, que foram transpostas para as principais cenas do filme. Daí em diante, o filme se torna um dramalhão insuportável, risível até.

Há excesso de melodrama na segunda parte da trama, uma atriz sem talento e careteira no papel principal, excessiva simplificação quando Napoleão entra na trama (afinal, só pinceladas para o público não se perder), de forma que Sombras de Goya definha e se apequena.

O cineasta Milos Forman tornou-se famoso pelo filme Amadeus, um dos melhores filmes dos anos 80, também biografia de artista, no caso de Mozart, e pelo superestimado Um Estranho no Ninho. Sua carreira oscila muito. Quando abandonou os filmes mais artísticos e enfiou-se na cultura pop, como quando fez outra biografia, agora do editor da revista pornográfica Hustler em O Povo contra Larry Flint, fez filmes menores, no entanto não desprovidos de interesse. Foram filmes muito criticados e de bilheterias fracas, que sepultaram a reputação de Forman e provavelmente afastaram o público deste Goya’s Ghosts.

Quando solta sua enorme cultura e sensibilidade européias na feitura de seus filmes, Forman acerta em cheio. Quando opta pela cultura de massa e seus reducionismos massificantes, comete equívocos, como esses que soterraram Sombras de Goya.


Fonte: http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1161


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Clássicos P&B!!!




Cidadão Kane
(Citizen Kane, 1941)
Por Rodrigo Cunha 

Um filme absolutamente imortal, uma das obras mais importantes da história do cinema.

Engraçado como a mente de um gênio funciona. Com pouco mais de 20 anos, Orson Welles dirigiu, produziu e roteirizou uma das maiores obras-primas da história do cinema. Nesta matéria, comentarei o filme em si, sua repercussão na época, algumas curiosidades, sua atualidade, o quão serviu para a evolução das técnicas do cinema e muito, muito mais. É complexo falar de Cidadão Kane; é complexo assisti-lo; é complexo entender sua importância.

É impossível falar do filme sem levar em conta a época que fora realizado. Se ainda hoje tem impacto e denuncia toda a sujeira por trás do sistema jornalístico mundial, imagine o apocalipse que causou na década de 40, tradicionalista e cheia de regras de conduta? Um personagem sujo, egoísta, egocêntrico, no meio de tantos galãs? Uma guerra começando e a denúncia ali, na tela? Era muito para as pessoas. Diversas abandonavam as salas de cinema revoltadas, e o filme foi muito mal em diversas críticas.

Ele começa com uma cena curiosa. Um castelo, que em breve sabemos que se chama Xanadu, com uma placa de “afaste-se” pendurada na grade e uma câmera que vai passeando por ele até uma janela. Até aí nada demais, para nós que estamos acostumados com uma certa linguagem no cinema, mas teve um significado muito maior na época. Depois a cena transição para dentro do castelo, outro recurso técnico inovador, vemos uma pessoa segurando uma bola dizendo “Rosebud”. Logo depois, ele a solta, entra uma enfermeira na sala e vemos que o homem está morto.

Tem-se início um documentário. Através dele descobrimos que quem acabara de morrer é ninguém mais ninguém menos que Charles Foster Kane, um dos homens mais importantes da época. O documentário tem duração de mais ou menos 10 minutos e mostra tudo resumidamente o que será aprofundado pelas próximas duas horas de Cidadão Kane. A partir daí, vemos quem está realizando o tal documentário, e que o mesmo não está satisfeito com o resultado provisório apresentado. Na tentativa de tornar o conteúdo mais interessante, ele coloca seus jornalistas atrás da resposta sobre uma questão que será a espinha dorsal do filme: o que diabos significaria “Rosebud”, a última palavra proferida pelo gigante Kane?

A genialidade de Welles entra junto com essa palavra, pois como poderiam saber qual foi se Kane estava sozinho na hora que a pronunciou? Welles jogou sabiamente com isso, e os mais despercebidos com certeza não notaram esse sutil detalhe. É como se nós, o público, tivéssemos espalhando a notícia. Isso mostra a profundidade do filme já na primeira cena. É como se fosse um aviso, “preste atenção em mim o tempo inteiro, porque nada aqui está por acaso, tudo tem seu significado, seu valor”. Realmente, é preciso ver Cidadão Kane com dois olhos, um de avaliador e outro de apreciador. Se possível, inúmeras vezes.

Na jornada para descobrir a resposta que procura, o jornalista Thompson (William Alland) entrevista diversas pessoas que mantiveram um forte contato com o magnata: sua ex-mulher (Dorothy Comingore, como Susan Alexander), seu antigo melhor amigo (Jedediah Leland, interpretado por Joseph Cotten), seu mordomo, etc. E a cada encontro uma nova história é contada, sempre de modo magnífico, trabalhando cada vez mais os personagens, evoluindo, fazendo transformações. As interpretações sempre perfeitas, com Welles extraindo tudo de seus atores. O modo como essa história é contada foi uma revolução para a época, por causa da narrativa não-linear. É necessário a atenção do espectador para colocar em ordem tudo o que o filme está apresentando. Nunca um filme havia utilizado tal sistema de flashbacks antes (sim, flashbacks já haviam sido usados, mas nunca dessa forma, assíncrona, para construir a história; eram utilizados apenas para esclarecê-la).

O interessante é que a descoberta do que seria “Rosebud” acaba se tornando um plano de fundo para descobrirmos o quão longe um ser humano pode chegar. Não é o verdadeiro foco do filme, e sim o trabalho sobre o personagem de Welles. Esse foi o primeiro grande impacto real que o filme causou sobre as pessoas, pois como falei acima, Kane não era o grande galã que elas estavam acostumadas a ver nas telas da época. Isso causou um repúdio ao personagem, acentuado ainda mais pelo jornalista William Randolph Hearst, que acreditava que muitos dos acontecimentos do filme foram baseados em sua vida real (e foram mesmo, o número de ‘coincidências’ é enorme). Ele começou uma forte campanha anti-Kane que afundou ainda mais o já sujo filme. Foi vaiado pelos poucos espectadores que não saíam do cinema ao final. O enredo, fazendo fortes críticas ao sistema jornalístico da época, é assinado por Herman J. Mankiewicz e o próprio Welles. Ousado, inovador, profundo, faturou o Oscar da categoria (mesmo com toda essa explosiva energia contra o filme, que das oito indicações, só ficou com essa).

Logo na cena de abertura, onde vemos o portão em primeiro plano e o castelo no segundo, é o primeiro aspecto técnico impressionante, afinal, era a primeira vez que a profundidade de campo era usada intencionalmente em um filme. Orson Welles trabalhou, durante toda sua duração (e brincando nesse começo), sobre a importância do que acontecia em primeiro e em segundo plano. Ele e seu Cidadão Kane foram os grandes responsáveis por talvez o recurso mais comum hoje em dia no cinema. Impossível um filme não se aproveitar dessa técnica. Outro ponto legal é a passagem do exterior do castelo para o interior, com a fusão de películas e um longo travelling. Isso era outro fator inédito, esses movimentos com a câmera, até então nunca utilizados. Se Griffith inventou a linguagem cinematográfica, foi Welles que a aperfeiçoou e deu as ferramentas para todos os diretores trabalharem com ela.

A direção de arte teve um papel importantíssimo, mesmo que passe despercebida para os espectadores casuais (bem, hoje em dia eles não existem mais, mas estou considerando a época em que foi realizado). Como o filme abrange diversos anos da vida de Kane, é impossível não perceber o belo trabalho da maquiagem. O modo como Welles foi transformado, envelhecendo anos junto com Kane é fantástico. Ah, vale citar que nem todos os cenários eram realmente o que apareciam. Muitos foram construídos pela metade para cortar custos e Welles mais uma vez provou sua competência ao fazê-los crescer frente às câmeras. No documentário inicial, por exemplo, foram usadas diversas imagens de arquivo para baratear a obra o máximo possível.

A fotografia é outro fator importantíssimo para o filme. Ao contrário do Expressionismo Alemão, que utilizava das sombras para tornar o protagonista parte do cenário, Gregg Toland (o fotógrafo do filme) utilizou o jogo de luz e sombras para dar o clima dark que queria. Sempre que Kane ia revelando seu lado negro, fazendo suas peripécias somente pensando em si, a sombra dominava o cenário, geralmente o encobrindo. O enquadramento foca tanto os primeiros planos como os segundos, sempre jogando com isso, diversas vezes mostrando o teto dos cenários, brincando com o tamanho aparente e seus egos no momento.

O que pode ter sido a gota d´água para Randolph processar Welles e fazer todo o estardalhaço anti-Kane (o que hoje em dia poderia acabar influindo a favor do filme, já que todos ficariam curiosos para saber qual bomba seria esta fita) não deve ter sido o modo como ele estripou o caráter de Kane. Não deve ter sido todo o repúdio ao jornalismo e as pessoas que se sentiram ofendidas com isso. Deve ter sido justamente a palavra Rosebud, o coração do filme. Welles poderia ter escolhido qualquer outra palavra no mundo, mas por que ele foi colocar justamente o nome como Randolph chamava o clitóris da amada?

Falei, no início dessa matéria, que o filme se mantinha atual, apesar de já ser sexagenário. Mas, por que? É bem simples. É só ver que todas essas críticas, toda essa sujeira que é percebida até hoje quando o assunto é jornalismo, onde uma TV especializada, por exemplo, deixa de dar uma importante notícia só porque uma pessoa que já foi famosa já não é tanto hoje em dia. É só ver o que uma pessoa faz para se manter por cima, ver todas as pessoas que ela não faz questão de pisar para que seu ego continue alto. É natural. Não que seja certo, mas está no sangue do ser humano, não há como negar as origens.

Na restauração da imagem e do som, para que uma boa qualidade fosse alcançada, foi necessário um trabalho foto-químico digital em uma cópia guardada no MoMA, já que a original havia se perdido em um incêndio. Por pouco não ficamos sem um dos maiores clássicos do cinema, considerado por muitos críticos como o melhor filme já feito de todos os tempos.

O reconhecimento veio com o tempo. Não que Welles tenha feito uma obra tendo em vista que ela fosse amadurecer e ser reconhecida com o passar dos anos, isso aconteceu naturalmente, talvez impulsionado pelo impacto causado na época. As pessoas ficaram curiosas, estudaram o filme e perceberam o talento do jovem diretor de apenas 25 anos, todo o seu simbolismo, sua inovação e, principalmente, sua importância dentro do cinema. É triste ver que um gênio como esse passou muita dificuldade na vida, enquanto algumas pessoas que se consideram diretores hoje em dia nadam nos cifrões de Hollywood.

Pode ser que nem todos gostem tanto assim da história de Cidadão Kane, mas, analisando toda a sua importância, o filme é impecável. Um grande clássico do cinema que deve ser assistido por todos, não importa a idade, o sexo, os valores humanos. Inesquecível, um filme que estará vivo facilmente por outros 60 anos.









Casablanca
(Casablanca, 1942)
Por Rodrigo Cunha 

Uma obra-prima atemporal, que superou tantos problemas para escrever o seu nome na história.

"You must remember this..."

É impressionante o fato de Casablanca já ter mais de 60 anos e continuar emocionando. Isso porque os padrões de filmes românticos já mudaram tanto, mas tanto com o passar dos tempos que fica difícil realmente entender porque este filme continua tão maravilhoso. Curioso que, como toda grande produção, este longa passou por inúmeros problemas antes de ser finalizado. Era um roteiro que chegava diferente todos os dias às mãos da equipe, atores apressados para terminar suas participações para, assim, irem filmar outros longas (este era considerado um filme secundário), e por aí vai, em uma lista quase interminável de complicações.

Rick (Humphrey Bogart) é dono de um famoso bar localizado em Casablanca, Marrocos, rota de fuga para quem deseja escapar da Guerra e seguir para a Europa. Ele leva seu negócio com maestria, sem problemas com os guardas e dando a segurança necessária aos seus clientes, tudo embalado pelas mais belas canções tocadas por Sam (Dooley Wilson), seu fiel - e talvez único - amigo. Só que quando um amor muito mal resolvido do passado (Ilsa, vivida por Ingrid Bergman) chega ao seu bar, ele deve decidir se deve ajudá-la ou não a escapar junto com seu importante marido.

Ele é Victor Laszlo, interpretado pelo astro Paul Henreid. Ator famoso na época, só aceitou esse papel 'secundário' em troca do seu nome aparecer no topo do cartaz. Porém, apesar de ser um papel considerado 'secundário' (afinal, a história principal é mesmo entre Rick e Ilsa), sua importância dentro da trama é enorme. Ele é o moinho que faz as águas da história correrem. Por sua causa a história principal acontece; é por sua causa que a vida dos personagens é alterada; é por sua causa que o filme tem a conclusão que tem.

Engraçado que as páginas do roteiro chegavam às mãos dos atores todos os dias, e olha que não estamos falando de George Lucas! Brincadeiras a parte, isso acontecia porque os roteiristas trabalhavam incansavelmente no roteiro, todos os dias, e não tinham um final para a história até pouco tempo antes da seqüência ser filmada. Isso chegava a irritar Ingrid Bergman, que sempre perguntava aos roteiristas: "Por quem eu devo demonstrar mais amor?", e ouvia um "Interprete de forma ambígua. Quando tivermos um final, você vai ser a primeira a saber" em troca.

E não é que deu certo? O resultado é um romantismo de primeira; uma mulher presa ao passado, mas que não consegue deixar de olhar para o futuro. Uma das mais marcantes interpretações da história do cinema, mesmo que Ingrid tratasse esse filme apenas como mais um - ironias a parte, justamente aquele que as pessoas mais lembram nos dias de hoje. Toda vez que tinha uma pausa, durante as filmagens, corria para o telefone para saber como estariam as negociações de sua participação em Por Quem os Sinos Dobram?, que hoje é muito menos conhecido que Casablanca.

Óbvio que Humphrey Bogart não é nenhum galã, mas ao lado de Ingrid Bergman, quem não fica mais charmoso? O homem com mágoas do passado, que deve decidir por um grande amor ou uma causa maior para todos é, sem dúvidas, sua melhor performance nas telas. Basta comparar sua interpretação com as inúmeras refilmagens e adaptações para a TV - nenhum outro ator conseguiu sentir o cheiro da poeira de Bogart. O que deixou Rick imortalizado foi o seu humor ácido e o jeito cafajeste de tratar a tudo e a todos, mas sem nunca parecer arrogante ou antipático. É a mais perfeita escola de anti-heróis de Hollywood.

Outro personagem interessantíssimo e que tem grande presença no longa é o Capitão Renault. Suas cenas são engraçadas, revoltantes, e mostram bem como tudo funcionava em Casablanca. Conrad Veidt (do bacaninha O Homem que Ri) faz uma pequena participação como o Major Strasser, e Sydney Greenstreet aparece como Signor Ferrari. Nomes que fortaleceram a obra, mesmo que ela não precisasse de nada disso para ser grande.

Mesmo com tanta alteração e indecisão no roteiro, é impressionante o número de diálogos inteligentíssimos e no tempo certo do longa. Quem nunca ouviu falar de "Estou de olho em você, garota" e inúmeras outras passagens do longa? É uma mistureba deliciosa de ação, policial, drama e, a mais marcante de todas as características, o romance. Um 'eu te amo' não soa piegas por aqui. É o amor à moda antiga, embalado e digerido da melhor forma possível, mesmo tanto tempo depois. Um filme que poderia estar datado, afinal, se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Mas ao invés de se concentrar na época, os personagens apenas a vivem, então sua atemporalidade está nas ações, e não no ambiente.

Como era um filme menor do estúdio, Casablanca viveu grandes problemas, principalmente na parte orçamentária. Tudo tirado de letra por Michael Curtiz, que nunca foi tão bem assim com atores, mas como técnico, não havia outro diretor igual. Seus impressionantes movimentos de câmera, somados à uma fotografia linda que aumenta de forma bastante expressiva o contraste entre preto e branco, tornam tudo ainda mais inesquecível. O que dizer da última seqüência, feita com um avião de madeira e anões, para dar escala ao cenário, sem nunca transparecer aos olhos do público? Ele realmente era um gênio, e o seu modo de resolver os problemas junto à produção é um exemplo até os dias de hoje.

Como falei, fica difícil entender porque Casablanca continua tão bom, mesmo com o passar de tantos anos. Talvez pelos personagens marcantes, pelos diálogos inesquecíveis, pelo romantismo constante, pela parte técnica inigualável... O leque de opções está aberto, cabe apenas a você decidir qual das opções lhe parece mais conveniente. Sinceramente? A decisão pouco vai importar, afinal, Casablanca é eternamente apaixonante como um todo.



quinta-feira, 14 de abril de 2011

Walter Salles






Abril Despedaçado
 (Abril Despedaçado, 2001)
Por Alexandre Koball

Um sólido e importante drama para o cinema nacional, mostrando que Walter Salles continua em forma.

A cada crítica de um filme brasileiro (ou mesmo latino), repito a mesma coisa: nosso cinema (e dos nossos vizinhos) está crescendo em um ritmo bastante razoável. Hoje já é possível ver nas salas de cinema, em bastante número, filmes falados em português e espanhol que, na sua média, são melhores do que os norte-americanos. Coisa que na primeira metade da década de 90 acontecia muito pouco. Está crescendo a quantidade e a qualidade dos filmes. No caso do Brasil, tudo começou com a surpreendente indicação ao Oscar de O Quatrilho, que fez todo mundo voltar os olhos para o nosso cinema. A partir daí, ganhamos destaque ainda maior com O Que É Isso, Companheiro?, filme de Bruno Barreto também indicado ao Oscar e, principalmente, Central do Brasil, filme que conseguiu um feito raro: indicar uma atriz que não fala idioma inglês para melhor do ano. Ao lado de Central do Brasil, Fernando Montenegro foi indicada ao Oscar de 1998. Nem filme nem atriz levaram o prêmio, mas valeu a experiência e ficou o orgulho.

Mas o melhor ainda estava por vir. Cidade de Deus  foi “O” filme nacional, que fez milhares de pessoas se voltarem definitivamente ao cinema daqui, prova disso é o sucesso comercial de Deus é Brasileiro. Confesso que apenas passei a me interessar pela cinemateca nacional a partir do lançamento do filme de Fernando Meirelles. E garanto: vale à pena ir atrás de outros filmes nacionais. Abril Despedaçado é um deles. Ele é o novo projeto de Walter Salles depois de Central do Brasil. Foi feito com grandes pretensões artísticas, mas acabou saindo frustrado das grandes premiações, ganhando uma indicação ao Globo de Ouro, mas ficando de fora do Oscar.

Abril Despedaçado também foi muito mal lançado, pelo menos aqui no Brasil. O filme saiu meses antes nos cinemas norte-americanos (por causa da possibilidade de uma indicação ao Oscar), e somente no final do primeiro semestre de 2001 apareceu no Brasil (já tendo sua imagem bastante desgastada). Certamente a indústria do cinema nacional ainda tem muito o que melhorar, pois Abril Despedaçado é um filme tão bom quanto Central do Brasil, e teria merecido um lançamento nacional em larga escala. Acabou se dando melhor nas locadoras, meses depois. Pelo menos isso...

O tema rural-nordestino, presente em Central do Brasil, continua em Abril Despedaçado. É um filme que fala da pobreza, e da falta de informação das pessoas (estou generalizando aqui) do interior do interior do Nordeste brasileiro que, vivendo sem esperança, pouco fazem – e pouco querem fazer – pra mudar sua situação. Se bem que o filme se passa em 1910, e se hoje ainda há muita desinformação para a população miserável, imagine naquela época.

Basicamente, é a história de uma disputa sem fim entre duas famílias. Tonho (Rodrigo Santoro) deve vingar o nome da sua família matando o filho mais velho da família rival (que matou antes um membro de sua família). Acontece que assim que realizar a vingança, ele sabe que, com a chegada da próxima lua cheia, ele também será morto, e não há nada que os chefões das famílias façam nem queiram fazer para este ciclo ter fim. Quando a camisa manchada de sangue do morto anterior amarela, é hora de se vingar.

É uma história muito triste. O trabalho das pessoas é difícil, repetitivo e não dá esperança nenhuma (eles produzem rapadura). Talvez morrer não seja tão mau, portanto. Mas a esperança eventualmente chega para Tonho, quando ele encontra em seu caminho um casal de artistas de circo de rua, e se apaixona pela mulher. Logo, Tonho finalmente vê um novo significado para a sua vida e tenta convencer seu pai que a disputa entre as famílias nunca levará a lugar nenhum (o que é verdade). A partir daí, Tonho vive o dilema de ou cumprir o seu papel, sendo morto, em respeito a seu pai, ou tentar acabar com a disputa.

Rodrigo Santoro, que faz Tonho, é hoje o melhor ator de sua geração no cinema brasileiro. Não é à toa que está em vários filmes importantes, como Bicho de Sete Cabeças e logo logo vai aparecer em Carandiru (além de também fazer uma ponta em As Panteras 2). Mesmo tendo fama de galã, ele convence como um rapaz pobre e sofrido do campo (o que poderia ser difícil de acontecer, já que o público liga ele diretamente a uma imagem de riqueza e glamour). Assim como em Central do Brasil, há também um menino que tem papel importante no filme. Interpretado por Davi Ramos Lacerda, Pacu é o irmão mais novo de Tonho, que tenta dar apoio a ele ao mesmo tempo que leva cacetada do pai por causa disso.

Tirando as belas interpretações de todo o elenco, e ao lado de Rodrigo Santoro, o principal destaque do filme é a fotografia. A equipe de produção conseguiu transformar o seco e sem graça sertão nordestino em um lugar belíssimo, com um contraste lindo entre o marrom da terra e o azul incessante do céu, explorando bem elementos como a noite e o pôr-do-sol. É talvez uma das mais belas fotografias do cinema brasileiro nos últimos anos.

Com todas suas qualidades, Abril Despedaçado não está livre de falhas. No final, é mais um filme sobre a pobreza e desesperança do povo nordestino. O filme também peca por não aprofundar certos pontos, como a briga entre as duas famílias (a história de Tonho é mais importante do que a disputa, no final das contas), e não dá pra deixar de pensar o tempo todo que o filme, enquanto belo, é extremamente estilizado, moldado para a arte, o que é sem dúvida algo bastante pretensioso. Filmes americanos fazem isso o tempo todo quando querem ser indicados ao Oscar. Você nunca ouviu a frase: “este filme foi feito para o Oscar”?

Mas, com toda a certeza, os pontos fortes sobressaem-se em relação aos pontos fracos, e o saldo geral é que Abril Despedaçado é um filme muito bom, de boas atuações e com uma história, embora já contada tantas vezes, muito boa. É uma lição de esperança, força-de-vontade e coragem em um cenário que não oferece nada disso. Vale a pena ser assistido.




quinta-feira, 7 de abril de 2011

The kids aren´t all right




Tiros em Columbine
(Bowling for Columbine, EUA, 2002)
Por: NIC1138

Os elogios que Tiros em Columbine têm arrancado ao redor de todo o mundo são merecidos. O filme é excelente.

Michael Moore é um comediante ativista, mais ativista do que comediante, que briga desde a década de 1980 com o governo americano e as grandes empresas que o controlam, e tenta ser um oásis de bom-senso em meio à alienada mídia americana que também é um constante alvo de suas críticas.

Moore já tinha experiência como jornalista desde 1976 antes de ingressar na carreira cinematográfica com o aclamado filme Roger & Me de 1989. Ele também dirigiu uma série para a televisão chamada TV Nation de 1994 a 1995.

O filme possui um formato muito bom, a profundidade com que aborda os temas é razoável e a porção comédia também é bacana - apesar de ser aflitivo o fato de não sabermos se algumas coisas mostradas lá são mesmo risíveis. Moore usa o incidente em Columbine como pretexto para expor a cultura estadunidense de submissão ao medo e de alienação em massa. Gente de todo o tipo aparece no filme, desde estudantes da escola, moradores da cidade de Littleton e caipiras membros de milícias, a prefeitos canadenses, professores universitários e astros do rock.

Os filmes de Michael Moore possuem algo muito difícil de se encontrar em um documentário: são bastante pessoais. Ele não é um reporter profissional fazendo uma cobertura de um assunto, ele é claramente um cidadão que tenta compreender o que há de errado dentro de sua comunidade, e esse toque pessoal é o que faz a diferença. Nota-se como Michael vai desenvolvendo suas críticas e argumentações ao longo do filme, enquanto que nós mesmos vamos formando novas opiniões sobre os assuntos tratados.

Mas esse ar pessoal do filme nem sempre funciona bem. Vez ou outra sente-se um certo grau de parcialidade inadequado, e em alguns instantes Moore aumenta as coisas usando desonestos recursos cinematográficos, e também atuando em papéis de indignação sem conseguir convencer muito. Mas no fundo percebe-se que não são erros maiores do que se pode desculpar com o velho ditado "errar é humano".

Não é só a preocupação pessoal de Moore que fica clara no filme. Um dos entrevistados no filme é Matt Stone, que só por ser um dos criadores do desenho South Park já merecia ter espaço para alguma opinião mostrada. Mas ele mostra que não é só um artista que resolveu fazer aquele programa "do nada". Ele estudou no mesma Columbine anos antes da tragédia, muito próximo portanto da cultura em que aquilo ocorreu, e na entrevista vê-se como existe muito de pessoal em seu tabalho. A entrevista com o shock rocker Marilyn Manson também é muito boa, e vai chocar quem nunca viu antes a maturidade com que ele se expressa fora dos palcos.

E por falar em animações com críticas aos costumes norte-americanos, Tiros em Columbine traz, durante sua projeção, uma animação muito legal criada por um tal de Ryan Sias e feita em Flash.

Pra terminar: Moore e o filme fazem parte de uma história maior que você só poderá conhecer acompanhando notícias nos jornais. Um bom lugar pra começar é o site oficial do diretor anunciado no final do filme (depois de tocar What a Wonderful World interpretado por Joey Ramone). Se você também gosta de não-ficção, não deixe de visitar o site! O pau está quebrando feio nos EUA desde o fatídico evento daquele 11 de Setembro, e parece que será justamente sobre esse quebra-pau que o próximo filme de Michael Moore vai falar.







Elefante
Elefante (Gus Van Sant, 2003)

Como é horrível e belo o dia que ainda não vi: Elefante de Gus Van Sant

John é levado para escola por seu pai completamente alcoolizado. Elias tira fotos de um casal no parque próximo ao colégio. Nathan e Carrie combinam o seu fim de semana com os amigos em meio a uma suspeita de gravidez. É assim, e com mais cinco visões, que Gus Van Sant caracteriza o massacre na Columbine High School.

Elefante ganhou a Palma de Ouro e o prêmio de melhor diretor no festival de Cannes em 2003. Em um de seus filmes mais notáveis Gus Van Sant narra o atentado de Columbine, que ocorreu nos EUA em 1999. Diferente de Tiros em Columbine de Michael Moore em que o massacre foi utilizado como ferramenta política, Van Sant humaniza a tragédia, narrando seus antecedentes de maneira delicada e sutil.

Apesar deste diferente ponto de vista Elefante também contém uma crítica política, porém de maneira mais disfarçada. O símbolo do partido republicano nos Estados Unidos, maior representante do conservadorismo e também maior entusiasta da livre distribuição de armas de fogo, é um elefante.

A construção dos momentos anteriores ao ataque é feita a partir do ponto de vista de vários personagens, alguns já citados no início deste texto. Cada um deles representa, alguns de maneira mais clara do que outros, segmentos sociais do high school americano. Entre eles o atleta, as jovens fúteis, a menina com poucos amigos, o artista, entre outros.

A construção fotográfica e a montagem foram essenciais para estabelecer esses pontos de vista distintos de um mesmo acontecimento. A câmera funciona, durante toda a ação, como um espectador próximo. Os quadros oscilam entre grandes planos gerais, que caracterizam o espaço diário de cada um dos personagens, e longos planos seqüência, que acompanham o caminhar por entre os corredores da escola.

O baixo contraste da foto merece ser destacado por estabelecer visualmente a apatia que rondava a vida dos personagens. Van Sant utilizou, para destacar momentos tranqüilos da vida de alguns personagens, a câmera lenta, dando um visual muito calmo para momentos que antecedem um fato tão tenso.

A montagem, feita em moviola, assume um papel importantíssimo na construção temporal da narrativa. Múltiplos eventos simultâneos são apresentados de maneira linear. Algumas marcas são repetidas, juntando as ações que são apresentadas de diferentes pontos de vista.

Elefante consegue de maneira excepcional caracterizar a vida dos adolescentes americanos. O filme aponta a distância entre os grupos sociais que convivem diariamente, contextualizando, em parte, a dura vida de alguns adolescentes.

Os diálogos são pouco trabalhados nesta narrativa. As falas servem somente para apresentar a rotina de cada um dos personagens e estabelecer a dinâmica da escola. A trilha sonora, por outro lado, é muito bem trabalhada e, com a escolha de músicas clássicas muito tranqüilas, cria uma oposição ao drama do atentado.

O ritmo deste trabalho de Gus Van Sant é, como na maioria de seus filmes, bastante lento e focado principalmente nos indivíduos que realizam ou sofrem a ação. A tensão é estabelecida pela temporalidade única de Elefante. Depois de não muito tempo recebemos a informação de que ocorrerá o ataque, porém ele só aparece no final da narrativa.

O atentado que demora a se concretizar gera uma imensa tensão enquanto acompanhamos os minutos anteriores a ele do ponto de vista de vários alunos da Columbine High School.
O ritmo lento e a divisão do ponto de vista elevam a tensão, assim como estabelecem perfeitamente a imprevisibilidade do ataque.

A caracterização dos assassinos é feita como a de todos os outros alunos. Suas vidas são apresentadas, assim como a família de Alex e seu gosto pelo piano. O beijo entre Eric e Alex logo antes de saírem para o ataque aponta a infantilidade dos assassinos. Ambos não queriam morrer sem ter beijado alguém.

Além deste momento tenro não há nada a não ser frieza no comportamento dos jovens assassinos. Movidos pelo ódio e pelo desconforto no local de estudo, dizimam a escola e matam a maioria dos personagens que narraram a história.

Quando encontra seu último alvo, o casal Nathan e Carrie, Alex se diverte escolhendo quem matará primeiro cantando “mamãe mandou” em meios às súplicas dos dois jovens.

Com um corte duro o assassinato é interrompido e o filme volta para onde começou: olhando para o céu, se afastando da ação, mostrando somente o tempo que passa pelas nuvens.

Felipe Abreu é graduando em Audiovisual pela Universidade de São Paulo (USP)

Fonte: http://www.ufscar.br/rua/site/?p=1302